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matthieu ricard / jean-françois revel

o monge e o filósofo

MR - Umas das características do Budismo como uma "ciência de mente" é a de que não é suficiente apenas reconhecer e identificar de forma consciente uma emoção ou uma tendência latente e trazê-la de volta à superfície. Precisamos de aprender a libertarmo-nos de tais pensamentos e emoções, impedindo-os de deixar qualquer rasto na nossa mente. Caso contrário, muito facilmente eles darão lugar a uma reacção em cadeia. Um pensamento de desconforto, por exemplo, rapidamente se pode transformar em animosidade e depois em ódio, até que rapidamente toma completamente o controlo da nossa mente, fazendo com que expressemos tais pensamentos em palavras e acções. Quando fazemos algo de negativo a alguém, a nossa paz interior também é destruída. O mesmo é válido para o desejo, a arrogância, a inveja, o medo e tantas outras emoções negativas. Podemos permitir que os nossos impulsos nos façam destruir, possuir ou dominar algo, mas qualquer satisfação que daí advenha será sempre efémera. Nunca nos trará o tipo de alegria que é profunda, estável e duradoura.

JFR - Mas certamente nem todo o sofrimento moral é causado pelo ódio ou pelo desejo?

MR - Não, o sofrimento pode vir de um conjunto vasto de emoções negativas. A chave para trabalharmos a nossa mente de forma eficaz consiste em não apenas identificar os nossos pensamentos e emoções mas também em dissolvê-los, deixá-los desaparecer no vasto espaço da nossa mente. Existem um número de técnicas que podem ser aplicadas com este fim.
A mais importante consiste em não nos concentrarmos no conteúdo das emoções ou nas causas e circunstâncias que as despoletam, mas sim em identificar a sua verdadeira origem. Existem duas formas de meditarmos, como um cão ou como um leão. Podemos tentar lidar com os nossos pensamentos da mesma forma que um cão corre atrás de cada pedra que lhe é atirada, uma após a outra. Isso é na realidade, aquilo que todos nós fazemos a maior parte das vezes.
Quando um pensamento surge, deixamos-nos levar por ele. Esse primeiro pensamento dá depois lugar a um segundo pensamento, depois a um terceiro e finalmente a uma cadeia de pensamentos infindáveis que apenas sustém a nossa confusão mental. Mas a outra forma de reagir, é semelhante à de um leão. Apenas se pode tirar uma pedra a um leão, porque ele se dirige imediatamente a quem lhe atirou a pedra e lhe salta para cima. Esta segunda analogia descreve o tipo de meditação em que nos viramos para a própria origem dos pensamentos e examinamos o mecanismo primário através do qual eles surgem na nossa mente.

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