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maria do rosário pedreira

Não adormeças: o vento ainda assobia no meu quarto
e a luz é fraca e treme e eu tenho medo das sombras que desfilam pelas paredes como fantasmas
da casa e de tudo aquilo com que sonhas.
Não adormeças já. Diz-me outra vez do rio que palpitava no coração da aldeia onde nasceste, da roupa que vinha a cheirar a sonho e a musgo e ao trevo que nunca foi de quatro folhas; e das ervas mais húmidas e chãs com que em casa se cozinhavam perfumes que ainda hoje te mordem os gestos e as palavras.
O meu corpo gela à míngua dos teus dedos, o sol vai demorar-se a regressar. Há tempo que uma história que eu não saiba e eu juro que, se não adormeceres, serei tão leve que não hei-de pesar-te nunca na memória, como na minha pesará para sempre a pedra do teu sono se agora a+enas me olhares de longe e adormeceres.

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