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licínia quitério

Devoras-me. Devoro-te. Há milénios.
Começámos ainda os dias se chamavam sol ou lua, e as palavras eram outras,
mais curtas, mais sonoras, e nas vozes se faziam estalos de chicote ou o soluço
dos líquidos à boca das ânforas.
A palmeira devora o deserto. Devoram-se.
Antes da areia, quando as tâmaras eram só o mel das tâmaras.
O leão devora. os leões devoram-se
Desde o dia em que as mães esconderam os filhos no coração das grutas.
Céu e mar devoram-se. Mar e céu regurgitam-se, ritmados.
Voam os peixes e os pássaros mergulham.
Porque te amo, devoro-te.
És a areia, a água, a nuvem, o leão, o mel.
Sou um fruto maduro na curva da idade.
Decifrei o segredo da Estrela Polar.

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