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anna akhmátova e marina tsvétaïeva

Anna
Morte, já que tens de vir, porque não agora?
Espero-te. E não é fácil.
Apaguei a luz e abri a porta
para ti, simples, miraculosa.
Toma para ti a forma que quiseres
sê o obus mortal que se despenha,
o ágil malfeitor que se aproxima, sorrateiro,
os vapores escuros da tifóide,
ou mesmo essa lenda que inventaste
e que todos sobressalta,
basta ver a ponta desse chapéu azul
na cabeça do porteiro, transido de pavor.
Para mim, já não importa. Agitam-se, revoltas, as águas
do grande rio siberiano
e brilha para sempre a Estrela Polar
e o relance azul dos olhos bem-amados
vela-se, num último calafrio.

Marina
Se pudesses saber, tu que passas atraído
por outros olhares
que não o meu, quanto fogo consumi,
quantas vidas vivi em vão,
quanto ardor, que arrebatamentos
por causa de uma fugitiva sombra ou de um ruído...
E o meu coração, inutilmente incendiado,
despovoado, desfeito em cinza.
Oh, os comboios que voam pela noite
Que transportam em si os nossos sonhos de partida...
Mesmo que o soubesses, bem sei,
nunca saberias realmente
por que razão a minha palavra irrompe
entre o eterno fumo dos cigarros
e quanta tristeza escura
ruge sob os meus cabelos claros.

E cantou como canta a tempestade
(Assírio e Alvim)

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