Na realidade, Pasolini era inimigo da violência não só por temperamento, pois era um homem meigo, doce e gentil e eminentemente dotado daquela piedade cujo desaparecimento lamentava, mas também e sobretudo porque a descoberta da nova violência massificada estava ao centro das suas mais profundas preocupações culturais e políticas.
Rimbaud, numa famosa poesia, diz ter adivinhado a madrugada em cem indícios sem porém a ver inteiramente "com o seu corpo imenso", até ao fim. Para a violência, com Pasolini, aconteceu como a Rimbaud, para a madrugada. Entreviu-lhe "o corpo imenso", apenas no último momento, quando já era demasiado tarde. Rimbaud diz que imediatamente depois de ter descoberto a madrugada caiu num sono profundo: "Quando acordou, era meio-dia". Pasolini viu a violência de massa na cara uma só vez, inteira e terrível. Tudo para ele foi portanto obscuridade, sem mais um acordar.
(Texto de Alberto Moravia, no Livro "Últimos Escritos, de Pasolini)
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